Omegle

O fato de desconhecer práticas como "trocar nudes"[1] é sinal inequívoco de velhice. Porém, eu ia decifrar tudo muito rápido…

Quem foi que disse que praticar uma língua estrangeira era chato? Isso é coisa de aula medíocre de inglês do ensino médio. Deixa eu te contar desde o início. Eu já tinha decidido começar a estudar o português. Mas como praticar as quatro habilidades linguísticas básicas sem viajar ao Brasil? Eis a questão. Escutar e ler são atividades que posso fazer sozinho. Já falar e escrever precisam de uma imersão social. Eu precisava de um feedback imediato. Eu precisava de contatar brasileiros.

Achei que ia ser fácil, mas não queria recorrer a meios que exigissem muito tempo ou dinheiro. Me cadastrar em um site não estava nos meus planos. Dei uma olhada nos resultados de uma pesquisa rápida no Google. Resolvi usar alguns dos sites de bate-papo mais populares no Brasil. Eu ia contatar pessoas aleatoriamente para conversas informais. Afinal quem não quer praticar inglês? Mas fui extremamente ingênuo!

Sites como o Omegle tem códigos sociais e dinâmicas linguísticas próprias, como: "h ou m?". O anonimato serve para tudo. Foi um recurso excelente para aprender vocabulário sobre coisas sexuais e xingamentos. Só nos primeiros três dias já tinha aprendido mais de dez palavras para descrever o trato final do aparelho digestivo, assim como também os aparelhos reprodutores masculino e feminino. Afinal de contas isto também faz parte da língua, né?

"Droga", "idiota", "filho da mãe"? Aquele papo mole das dublagens dos filmes não é parte do léxico omegliano, meu caro leitor/cara leitora. Jamais foi tão certa a máxima: "aprender está além do bem e do mal". Assim que eu falasse que sou homem, o pessoal saía da conversa ou, ainda melhor, atirava uma brasa viva no meu rosto. E aquela era uma brasa que eu ficava muito feliz de alimentar. Juro que mais de uma vez chorei de tanto rir. Fingi ser menina. Fingi ser mais novo. Fingi ser paulista, carioca, nordestino, americano, argentino. Se a outra pessoa tinha algum tipo de questão não resolvida com algo, eu encarnava aquilo.

"Somente duas coisas são infinitas: o Universo e a zoeira. E não estou seguro quanto à primeira" - Albert Einstein

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correções | adaptações

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<em>Andrés descobrindo a zueira brasileira huehuehue </em>

<em>O uso da palavra contatar não está incorreto, porém, usamos entrar em contato informalmente. O termo trocar nudes/mandar nudes faz parte do vocábulario dos jovens mesmo, pode ser que algumas pessoas não entendam. Fiz algumas adaptações também, espero que sejam úteis.</em>

Omegle

O fato de desconhecer práticas como "trocar nudes"??? é sinal inequívoco de velhice. Porém, eu ia decifrar tudo muito rápido…

Quem foi que disse que praticar uma língua estrangeira é chato? Isso é coisa das aulas mediocre de inglês do ensino médio. Deixa eu te contar desde o início. Eu já tinha decidido começar a estudar português. Mas como praticar as quatro habilidades linguísticas básicas sem viajar para o Brasil? Eis a questão. Escutar e ler são atividades que posso fazer sozinho. Já falar e escrever precisam de uma imersão social. Eu precisava de um feedback (ou pode dizer "um retorno") imediato. Precisava entrar em contato com brasileiros.

Achei que ia ser fácil, mas não queria recorrer a meios que exigissem muito tempo ou dinheiro. Me cadastrar em um site não estava nos meus planos. Dei uma olhada nos resultados de uma pesquisa rápida no Google. Resolvi usar alguns dos bate-papos mais populares no Brasil. Eu ia entrar em contato com algumas pessoas aleatoriamente para conversas informais. Quem não quer praticar inglês? Fui ingênuo. Ingênuo demais. Demais mesmo!

Sites como o Omegle tem códigos sociais e dinâmicas linguísticas próprias: "h ou m?". O anonimato se presta para tudo. Foi um recurso excelente para aprender vocabulário sobre coisas sexuais e xingamentos. Só nos primeiros três dias já tinha aprendido mais de dez palavras para descrever o trato final do aparelho digestivo, assim como também os aparelhos reprodutores masculino e feminino. No final das contas, aquilo também é parte da língua, né?

"Droga", "idiota", "filho da mãe"? Aquele papo mole das dublagens dos filmes não é parte do léxico omegliano, meu caro leitor/cara leitora. Jamais foi tão certa o ditado: "aprender está além do bem e do mal". Assim que eu falasse que sou homem, o pessoal saía da conversa ou, ainda melhor, atirava uma brasa viva no meu rosto. E aquela era uma brasa que eu ficava muito feliz de alimentar??. Juro que mais de uma vez chorei de tanto rir. Fingi ser menina. Fingi ser mais novo. Fingi ser paulista, carioca, nordestino, americano, argentino. Se a outra pessoa tinha algum tipo de questão não resolvida com algo, eu ia encarnar aquilo.

"Somente duas coisas são infinitas: o Universo e a zoeira. E não estou seguro quanto à primeira" - Albert Einstein

<em>muito bom!</em>