18ck
Mais tempos verbais desesperados (PT-PT) Acabo de fazer um exercício. Fiz alguns erros,claro mas há um que não entendo. O assunto do paragrafo era um passeio que o escritor fez com uns amigos: "É uma experiência que eu gostava que os meus filhos, um dia, quando ________ (ser) maiores, ______ (poder) experimentar" Sem dúvida o verbo principal é imperfeito mas a segunda parte refere-se a uma época no futuro distante. Por isso, escrevi "forem" e "poderão", mas a resposta foi "fossem" e "pudessem". Por que^? Nao consigo entender como estes tempos verbais fazem sentido aqui...
Nov 16, 2017 9:47 PM
Answers · 33
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[2/8] Equação: futuro do conjuntivo (com 'se')/presente do conjuntivo (com 'caso'), futuro do indicativo ou presente do indicativo + que + presente do conjuntivo. (É basicamente o mesmo exemplo da 'zero', mas, só por usar algum futuro em alguma das orações, há uma pequena ideia sutil de uma hipótese futura a ser realizada e não uma simples afirmação. Na prática, a ideia aqui pode ser a mesma da 'zero conditional', assim como a segunda frase da 'zero conditional' também poderia expressar o futuro. O que vai determinar um 'sentimento' de ideia presente ou futura é o contexto, aqui jogado no futuro com 'até lá' e lá em cima jogado no presente com 'já'.) Second conditional: 'If my kids were older, I would like them to be able to experience this.' 'Se os meus filhos fossem maiores, eu [gostaria / gostava (apenas no PT-PT)] que pudessem experimentar isto.' (O teu exemplo, 18ck, só que reorganizado!) Equação: pretérito imperfeito do conjuntivo, [condicional / pretérito imperfeito do indicativo (PT-PT)] + que + pretérito imperfeito do conjuntivo. Third conditional: 'If my kids had been older, I would have liked them to have been able to experience this.' 'Se os meus filhos tivessem sido maiores, eu teria gostado que tivessem podido experimentar isto.' Equação: pretérito imperfeito do conjuntivo + particípio, condicional + particípio + que + pretérito imperfeito do conjuntivo + particípio. (Neste caso em particular, eu diria esta frase de um outro modo, possivelmente 'se os meus filhos fossem maiores, eu teria gostado que pudessem experimentar isto'. Refletindo aqui, parece-me que, ao menos no PT-BR, alguns verbos soam um pouco estranhos em construções com o particípio, pois os seus particípios caíram em desuso na linguagem diária ('estado', 'querido', 'podido', ...) e daí não os utilizamos normalmente assim, preferindo substitui-los por outros tempos verbais, meio que 'misturando' as construções. (+)
November 17, 2017
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[1/8] Hm. AMO estas questões que me tiram da minha zona de conforto e me fazem refletir sobre a minha língua. :) Olhei para a frase do exercício, inseri 'fossem' e 'pudessem' automaticamente e só então vi as respostas que colocaste, 18ck, entendendo o quanto coisas que nós ignoramos nas nossas línguas maternas podem ser difíceis a estrangeiros. Mas vamos lá. Há um tempo, respondi a uma questão similar aqui no italki. Vou pôr o link aqui; podes dar uma olhada para que eu não precise repetir tudo o que falei lá, pois foi uma boa resposta: https://www.italki.com/question/403262 Enfim, preparado? Resposta longa, minuciosa e técnica a caminho! (Vou tentar utilizar os termos da gramática europeia aqui.) Primeiro, uma resposta direta e pragmática: pensemos no inglês. Sabes as 'conditionals'? Vamos criar umas frases simples e bobas nelas, baseadas no exemplo do teu exercício, só para destrincharmos algumas ideias (vou utilizar 'when' no lugar de 'if' e alterar algumas palavras para algumas frases fazerem mais sentido). Então, por via de regra, matematicamente ficam assim em português: Zero conditional: 'If your kids are grown-ups already, I hope that they can experience this.' 'Se os seus filhos já são maiores de idade, espero que possam experimentar isto.' 'Caso os seus filhos já sejam maiores de idade, espero que possam experimentar isto.' Equação: presente do indicativo (com 'se')/presente do conjuntivo (com 'caso'), presente do indicativo + que + presente do conjuntivo. First conditional: 'If your kids are grown-ups by then, I will hope that they can experience this.' 'Se os seus filhos forem maiores de idade até lá, [torcerei / vou torcer] para que possam experimentar isto.' 'Caso os seus filhos sejam maiores de idade até lá, [torcerei / vou torcer] para que possam experimentar isto.' 'Se os seus filhos forem maiores de idade até lá, espero que possam experimentar isto.' (+)
November 17, 2017
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[4/8] A 'zero conditional' transmite um fato, então os tempos verbais são os mesmos nas duas línguas: só presentes (presente do conjuntivo com 'caso' e também no caso dos últimos verbos de cada frase, por causa do 'que'). A partir da 'first conditional', então, começamos a ter as hipóteses e aí só precisas aplicar a 'matemática' da coisa: nas orações condicionais (são as primeiras; não confundir com o tempo verbal chamado 'condicional' ;)), onde o inglês utiliza o presente simples, utilizamos o futuro do conjuntivo (hipótese futura); onde o inglês utiliza o passado simples, utilizamos o pretérito imperfeito do conjuntivo (hipótese geral, num 'passado hipotético', como esbocei na resposta que linkei ali em cima); onde o inglês utiliza o 'past participle', utilizamos o seu correspondente em português (mas no conjuntivo, tecnicamente chamado de 'pretérito mais-que-perfeito do conjuntivo'). Nas orações das consequências, há uma correlação simples e literal entre as línguas (futuro no inglês vira futuro no português; 'would' no inglês vira o condicional no português (ou o pretérito imperfeito do indicativo, no caso exclusivo do PT-PT)). A questão é que, nas orações condicionais, o verbo tem de estar no conjuntivo (com exceção da 'zero conditional'), por expressar uma hipótese; nas orações das consequências, o verbo precisa estar no indicativo, por expressar uma certeza relacionada àquela hipótese; e os verbos após o 'que' precisam estar também no conjuntivo, por expressarem também hipóteses relacionadas à consequência. É como um conjunto matemático do tipo (A + (B + C)). Sabendo onde vai o conjuntivo e onde vai o indicativo, a questão é saber qual tempo verbal de cada um desses modos deve ser aplicado. Aí entra a nossa terceira conclusão: aparentemente, há um 'ímã verbal' aí rolando entre os tempos verbais. Percebe como, nas primeiras duas 'conditionals' ('zero' e 'first'), há uma atração entre os presentes e os futuros do indicativo e do subjuntivo. (+)
November 17, 2017
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[3/8] Às vezes não há jeito e acabamos utilizando essas construções (já me peguei tendo que soltar um 'tinha querido' contra a minha vontade, rs), mas é bem raro (no caso de 'sido', é um particípio que me soa normal, mas 'tivessem sido maiores' me soa um pouco estranho... Talvez não o utilizemos ao expressar um estado físico, mas 'tivessem sido boas pessoas' me soa perfeitamente normal, por exemplo). De qualquer modo, esta 'equação' em questão serve normalmente para outros casos ou com outros verbos que não soam tão estranhos no particípio: 'Se os meus filhos tivessem sido boas pessoas, eu teria gostado que tivessem tido a chance de experimentar isto.') 'Natan, por que diabos estás fugindo da pergunta original e inventando uns exemplos nada a ver?' Para que possamos, disso, tirar algumas conclusões e criar algumas associações entre o inglês e o português que te possam ajudar. Primeiro: o inglês não tem conjuntivo. ;) Na verdade tem, mas não é assim percebido pela maioria dos seus falantes (exceto quando falam 'if I were', por exemplo). Vocês utilizam os mesmos tempos verbais 'normais' e é a estrutura da frase que remete a uma possibilidade ou uma certeza. No português, temos tempos verbais apropriados para cada uma dessas ideias. O desafio para ti, então, como anglofalante, é interpretar a ideia na tua mente a fim de saber qual é o tempo verbal apropriado. Entendendo que determinada ideia pertence ao campo das hipóteses, já sabemos que precisaremos do conjuntivo em algum momento. Aí entra a segunda conclusão: quando o inglês utiliza determinados tempos verbais nessas construções, o português utiliza outras bem específicas. Há uma correlação que podes aplicar (por isso criei as tais 'equações'), só precisas ficar atento às exceções e às 'misturas' que às vezes podem surgir (como exemplifiquei ali naquela observação após a última 'conditional'). (+)
November 17, 2017
[8/8] Por fim, para finalizar, o Kamenko te deu boas dicas ali também. Tudo isto aqui foi bastante técnico, mas agora falando como um nativo e refletindo sobre as minhas percepções com as várias possibilidades da frase, sim, 'fossem' e 'pudessem' remetem ao futuro, mas não um futuro cronológico e sim um futuro hipotético dentro do campo desse 'passado' de hipóteses gerais, sem certezas sobre a probabilidade dele acontecer. É uma reflexão sobre uma possibilidade geral. 'Forem', porém, transmite a ideia dum futuro hipotético já em andamento, mais palpável, provável. Traduz a frase do exercício para o inglês e vê como a ideia é similar (adaptando para poder fazer umas correlações): 'It is an experience that I'd be happy if my kids, someday, when they're older, were able to experience' (hope it's a good translation!). Apesar de usares 'were', é uma hipótese que soa futura, não? Ao mesmo tempo, nada além de 'were' seria correto aí. Como nativo, deves 'sentir' que a ideia correta é essa, ligada a um passado hipotético de algum modo. Sei que não ajuda que em inglês seja 'when they ARE older' ('when they WERE older' soa estranho aqui, não é?), que seria 'quando eles FOREM maiores', mas já expliquei sobre isso acima. Desculpa-me pela resposta absurdamente grande e espero que te seja de serventia. Qualquer dúvida, só dizeres!
November 17, 2017
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