Jose Carlos Silva
Os patos de Rui Barbosa

Os patos de Rui Barbosa

Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe:
- Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada.
E o ladrão, confuso, diz:
- Doutor, eu levo ou deixo os patos?

Rui Barbosa

(P.S.: Essa mesma "lenda" é atribuída também ao poeta português "Bocage".)

P.S2.: A fala de Rui Barbosa "traduzida" para um "português mais comum" (menos rebuscado) ficaria algo, como a seguir:

"- Oh, sujeito ignorante! Não falo com você pelo valor estimado dos patos, mas sim, pelo ato cruel e silencioso de violar o espaço da minha moradia, levando meus patos a um destino desconhecido. Se faz isso por necessidade, o permito; mas se é para zombar da minha elevada posição de cidadão digno e honrado, darei, com a minha bengala, na sua cabeça, e o farei com tal força, que reduzirei você a um quinto do que o popular denomina nada."  

29. Nov. 2016 07:28